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🏀 Análise vídeo | O Europeu dominante de Clara Silva

A poste portuguesa de 18 anos e 1,98 metros, que vai representar Kentucky na NCAA, foi eleita para o Cinco Ideal do Europeu de Sub18, ao liderar Portugal à melhor classificação de sempre na categoria.
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Clara Silva é um nome a decorar. A portuguesa de 18 anos e 1,98 metros esteve em destaque nos Campeonatos da Europa de Sub20 e de Sub18, este verão, sendo eleita para o cinco ideal do último com médias de 18.7 pontos, 7.6 ressaltos, 3.4 assistências e 2.0 desarmes de lançamento.

Depois de cinco épocas no Unicaja, em Espanha, a poste lusa vai mudar-se para o outro lado do Oceano Atlântico e reforçar a universidade de Kentucky, na NCAA. A treinadora adjunta das Wildcats, Radvile Autukaite, esteve em Matosinhos para ver Clara jogar por Portugal e deixou elogios ao talento da atleta natural de Faro.

As prestações de Clara Silva no Europeu de Sub18 chamaram a atenção de analistas norte-americanos especializados em talento jovem, como Mark Schindler, pelo que decidimos rever os sete jogos da equipa das quinas para destacar o porquê da poste portuguesa estar a gerar tanta expectativa junto dos fãs de Kentucky.

Comecemos pelo óbvio. Como jogadora mais alta do Europeu, Clara explorou as vantagens que os seus 198 centímetros lhe oferecem, em especial no jogo interior. Os post ups da gigante lusa deram muitos pontos à Seleção Nacional, mas ficaram na retina a forma como não usa o drible em excesso nas áreas mais próximas do cesto e o touch nos lançamentos curtos.

O excelente trabalho a selar defensoras directas nas suas costas permite-lhe, ainda, receber bem dentro da área pintada e criar lançamentos sem usar um único drible. O reportório de finalizações a um/dois metros do cesto é bom e aquele spin move para a linha final é indefensável.

Mas Clara Silva mostrou, neste Campeonato da Europa, que o seu reportório tem muito mais do que “apenas” bons moves nos post ups.

O trabalho de pés de Clara é, aos 18 anos, bastante polido. Os treinos diários de técnica individual nos cinco anos no Unicaja ajudaram a solidificar um footwork que impressiona e é já uma arma clara (pun intended!) do seu jogo.

Esse trabalho de pés é boa parte do sucesso do seu go-to move, o fadeaway. Clara tem a tendência de evitar contactos perto das tabelas, mas encontrou uma forma de ser efectiva com este movimento aperfeiçoado pela sua técnica individual acima da média.

Aqui estão mais de três minutos e meio de lançamentos em queda para a rectaguarda - qual deles o mais impressionante? -, que Clara Silva converteu numa taxa elevadíssima:

Esta jogada é um exemplo perfeito dos recursos técnicos da poste portuguesa. Sela a adversária, recebe na área restrictiva, tenta o 1x1 para a linha final e usa o extraordinário footwork para voltar ao meio do pintado e encontrar uma linha de passe para o corte nas costas de Leonor Peixinho.


A capacidade de passe, entre técnica, timing e visão de jogo é, de resto, mais uma área muito importante do jogo de Clara. E a #17 usa-a em diferentes contextos.

Quando recebe a bola longe da área restrictiva, arrastando as protectoras de cesto adversárias para zonas afastadas do pintado, Clara consegue identificar os cortes das colegas para estas finalizarem perto do cesto.

Ou após uma mudança do lado da bola, a partir do topo dos três pontos, para capitalizar backdoor cuts das extremos do lado vazio do ataque.

Ou ainda na forma como consegue interpretar o jogo “de dentro para fora”. A sua gravidade chama a atenção das defensoras em posição de ajuda e isso abre espaço para as “atiradoras” de Portugal. Clara distribuiu assistências para triplos.

Mas os nossos passes preferidos de Clara na competição foram estes dois. Post up no low block, leitura do 2x1 que surge a partir do meio da área restrictiva, assistência para o canto oposto. Clara Silva ou Nikola Jokić?


Clara também brilhou nos elbows, os chamados cotovelos da área restrictiva.

A passar a bola, como nesta ligação high-low com Carolina Silva:

E em ataques em drible para o cesto.

Aqui, faz o drive para o meio do pintado, mas usa o corpo da defensora directa como eixo e roda para a linha final com um drop step de grande amplitude. Mais uma vez, o trabalho de pés a fazer miséria.


Sendo uma referência interior para o ataque português, Clara é defendida com recurso a estratégias distintas no poste baixo. Mas, mesmo quando não consegue oferecer uma linha de passe directa às ballhandlers no perímetro, a poste não relaxa e trabalha os melhores ângulos para se tornar uma ameaça.

Por vezes, faz esse relocating após um passe seu do bloco para fora dos 6,75 metros. Os milésimos de segundo em que a sua defensora directa relaxa após a bola sair dos dedos de Clara dão-lhe a vantagem necessária para se recolocar numa melhor posição para receber novamente a bola.


Voltando ao início e àquilo que não se treina - 198 centímetros - Clara é sempre bastante activa na luta das tabelas. Seja no ataque, a criar segundas oportunidades…

… ou na defesa, a “limpar” a tabela para iniciar transições.


E, claro, uma das melhores utilizações que Clara Silva dá ao seu 1,98 metros e à sua envergadura a condizer é na protecção do cesto. Foram várias as situações em que frustrou contra-ataques adversários ou penetrações no 5x5 em meio campo com desarmes de lançamento em ajuda às colegas.

Esta jogada, em particular, chamou-nos a atenção. Portugal estava a defender numa zona 2-3 com Clara como elemento central da linha de trás. A poste inibe o drive com o seu poder de intimidação, mas tem a agilidade para rodar as ancas e recuperar para a atleta que recebe a bola no dunker spot. Depois, foi um banquete.

Portugal optou por drop coverage sempre que Clara era envolvida na defesa do bloqueio directo, com a poste a dar dois passos atrás para prevenir eventuais penetrações e proteger o cesto. No entanto, mostrou pés suficientemente rápidos para fazer o closeout no perímetro, chegando a desarmar lançamentos de três pontos.

Uma das áreas em que Clara trabalhou nos anos mais recentes em Espanha foi a defesa de jogadoras no perímetro. E isso viu-se em Matosinhos. Mesmo com matchups desfavoráveis em termos de velocidade, a gigante conseguiu acompanhar as penetrações e usar a sua longa envergadura para abafar as intenções contrárias junto ao cesto.

Criação no poste baixo, trabalho de pés, capacidade de passe e protecção de cesto foram algumas das skills que Clara Silva colocou dentro das quatro linhas neste Europeu, que ajudaram Portugal a assegurar a melhor classificação de sempre em Campeonatos da Europa da categoria (5.º lugar) e a carimbar o passaporte para o Mundial de Sub19 de 2025.

Se quiserem espreitar os melhores momentos da poste lusa, no Europeu de Matosinhos, compilámos tudo num vídeo publicado no nosso canal de YouTube. Aproveitem e subscrevam o canal!

Deixem feedback sobre este artigo nos comentários e digam-nos se estão entusiasmados/as para ver Clara Silva no campeonato de basquetebol universitário norte-americano, ao serviço das Kentucky Wildcats.

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Análise Vídeo 📼
Espaço de análise táctica e 'breakdown' de 'set-plays' e tendências de jogadores ou equipas, com recurso a vídeo.
Authors
Ricardo Brito Reis