🏀 Análise vídeo | Neemias Queta vs. Los Angeles Clippers
Português respondeu da melhor forma às exibições menos conseguidas frente a Cleveland Cavaliers e Washington Wizards, com o jogo mais disciplinado da época e uma linha estatística ímpar.
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Adivinhem quem voltou? Sim, o Kristaps Porziņģis. Mas não só. Esta noite, na vitória tranquila dos Boston Celtics sobre os Los Angeles Clippers (126-94), voltou também a melhor versão de Neemias Queta. Na ausência de Al Horford e Luke Kornet, o português foi o escolhido para o papel de suplente do regressado poste letão. A fava saiu, desta vez, a Xavier Tillman, que não saiu do banco de suplentes dos campeões da NBA.
Tillman tinha sido o eleito na partida anterior, frente aos Minnesota Timberwolves, por causa da sua capacidade de trocar defensivamente e aguentar com jogadores como Julius Randle ou Naz Reid, que tanto podem jogar no perímetro como mais perto do cesto. Esta madrugada, o treinador Joe Mazzulla considerou que os matchups eram mais favoráveis ao gigante do Vale da Amoreira. Não se enganou.
Disciplina no ressalto
Neemias falhou o tal jogo frente aos Timberwolves, segundo Mazzulla, por uma questão de encaixes. Mas a verdade é que as duas partidas anteriores, contra Cleveland e Washington, foram os piores jogos da época do poste luso.
O vídeo de uma das jogadas certamente sido mostrado a Queta foi o seguinte, em que, por cair na tentação de tentar o desarme de lançamento ao portador da bola, ficou fora de posição para fazer o box out [bloqueio defensivo] que dificultaria o trabalho de Jonas Valančiūnas de lutar pelo ressalto ofensivo.
Claramente preocupado em não repetir o erro em causa, recorrente em alguns jogos na sua carreira na NBA, Neemias focou-se mais no seu posicionamento do que em tentar contestar todas as tentativas de lançamento na área pintada.
Os Celtics perderam alguma capacidade de intimidação e sofreram 58 pontos na área restrictiva, mas foi evidente que, para Neemias, a prioridade era impedir o seu defensor directo de entrar na tabela ofensiva.
Na jogada seguinte, é visível a hesitação do português quando percebe que Jrue Holiday ficou congelado após o arranque em drible de James Harden. O relaxamento do base, fosse pela vantagem no marcador ou por confiar no protector de cesto lá atrás, é “o” erro. Noutras alturas, Neemias comprometer-se-ia com a penetração de Harden, mas nota-se que foi para este jogo com as “orelhas a arder” e ficou com Ivica Zubac.
Aqui, Neemias faz uma excelente jogada defensiva. Primeiro avança para cortar a linha de penetração a Jordan Miller, ajudando o colega que estava atrasado, e, quando o jogador dos Clippers recolhe a bola após drible, o português recua para inibir o passe para Kai Jones. Leitura e posicionamentos perfeitos.
Uma das provas da disciplina de Neemias nesta questão de nunca deixar o seu homem sozinho para eventuais segundas oportunidades pode ver-se num pequeno detalhe desta jogada, bem perto da buzina final.
Quando “Bones” Hyland desenquadra Jaden Springer com a finta de lançamento e arranca em drible, Neemias sente que tem que se mostrar ao base dos Clippers, mas há um momento em que roda a cabeça e olha para trás para saber exactamente onde está Kai Jones. Esta preocupação foi constante ao longo da partida.
Disciplina na verticalidade
Ninguém se recorda da última vez em que Neemias se viu com problemas de faltas. Esta tem sido uma das áreas mais consistentes do poste nascido em Lisboa há 25 anos, que tem sabido gerir a fisicalidade para aumentar os minutos dentro das quatro linhas.
Zubac isolou Neemias no ataque e, apesar de ter concretizado em algumas posses de bola, o português fez um bom trabalho, sempre com a disciplina de não fazer faltas desnecessárias. Ainda assim, obrigou o croata a usar o drible em demasia para se aproximar do cesto, dando tempo a ajudas dos colegas, e contestou o lançamento de braços levantados. Mais do que isto, só em falta.
E nas poucas vezes em que se viu encaixado com jogadores mais pequenos, após trocas ou em situação de ajuda, soube *sempre* manter a verticalidade na oposição aos lançamentos. Sem faltas e sem permitir pontos.
Disciplina no ataque
Não foi só na defesa que Neemias esteve em bom plano. Também do lado ofensivo foi um factor importante para o sucesso dos Celtics. Vários bloqueios indirectos, neste caso ao jogador do canto [pin down], foram uma marca do poste de 2,13 metros. Bons ângulos, bom timing, boa execução no geral e lançamentos abertos.
Uma das jogadas mais bonitas da noite foi a que abriu o 2.º quarto e, portanto, executada a pedido de Mazzulla após a pausa entre períodos. Primeiro, Neemias oferece um bloqueio a Sam Hauser para libertar o “atirador”, mas Zubac aparece no caminho do extremo, que desiste de cortar para o cesto e volta para o perímetro, para ser ele a dar um bloqueio em afastamento [flare screen] a Derrick White.
É aqui que acontece a falha da comunicação dos dois defensores. Nicolas Batum e Kevin Porter Jr. seguem ambos com White, enquanto Hauser fica sozinho. Com Zubac no pintado, Hauser opta por ir buscar a bola à mão de Neemias [handoff] e converte dos 7,25 metros, num 3-man game perfeito envolvendo o português.
Outra excelente jogada dos Celtics, no 4.º período, que começa com um bloqueio directo central para obrigar a uma troca dos defensores de Derrick White e Sam Hauser. Aí, inicia-se uma acção do lado direito do campo, com dois bloqueios consecutivos de Jaylen Brown e Neemias [stagger screen] para Payton Pritchard.
A acção não passa de uma false play, com o objectivo de concentrar a atenção dos Clippers no lado direito do campo, enquanto Jaylen Brown desfaz do bloqueio para ocupar o poste baixo do lado esquerdo. Depois de receber o passe interior, JB lê que tem dois defensores por perto e serve Neemias para o afundanço. A disciplina dos cinco jogadores dos Celtics foi fundamental para o desfecho.
Mas a jogada escolhida pela transmissão da NBC Sports Boston como a melhor do encontro foi a seguinte, também finalizada pelo português. Não pela execução, mas apenas pelo coração e altruismo de dois jogadores que colocam o colectivo acima do sucesso individual: Derrick White e Neemias Queta.
De tanto ajudar e servir os outros, Neemias acaba por ver o seu trabalho recompensado pelos colegas de equipa. Vê-lo a ser procurado como finalizador em situações de bloqueio directo [pick & roll] acontece com mais frequência e é o testemunho da confiança que tem conquistado dentro do balneário.
(Revejam novamente a terceira e última jogada do clip em cima, e reparem que, ao receber o passe do rookie Baylor Scheierman, Neemias faz a paragem a um tempo e parece congelar. A sua primeira intenção é dar continuidade ao ataque - altruismo! -, procurando linhas de passe do lado contrário. Ao perceber que não tem colegas livres, decide-se por um 1x1 que termina com um semi-gancho de esquerda que deixou o próprio Nicolas Batum visivelmente surpreendido.)
Se ficaram preocupados com o que se disse no #CelticsTwitter depois dos jogos frente a Cleveland Cavaliers e Washington Wizards, podem respirar de alívio. Joe Mazzulla não desistiu de Neemias Queta e vai dar-lhe mais oportunidades para se continuar a desenvolver.
Com todos os postes disponíveis, é certo que haverá poucos minutos atrás de Porziņģis e Horford. Mas, mesmo com um ou outro percalço pelo caminho, Neemias está a fazer tudo para que esse minutos, muitos ou poucos, sejam seus.
Estas análises são mesmo muito boas! Parabéns Ricardo
Parabéns Ricardo! Fantástica análise! 💪