🏀 Análise vídeo | Neemias Queta vs. Brooklyn Nets
Novamente titular no lugar de Al Horford, o português foi um exemplo de eficácia em todas as suas acções, mesmo as que não aparecem na folha estatística.
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Nos últimos artigos de análise vídeo dos jogos do “nosso” Neemias Queta, abordámos o tema da tomada de decisão, quer no desfazer do bloqueio directo para a zona da linha de lance livre [short roll], quer na altura de assumir o lançamento nas áreas mais próximas do cesto.
Hoje voltamos ao tema, porque o jogo desta noite, em Brooklyn, é o exemplo perfeito do que tem sido a evolução do gigante do Vale da Amoreira.
Defendido por Nic Claxton, um poste ágil, rápido, capaz de defender múltiplas posições e um protector de cesto que gosta de fisicalidade, Neemias foi posto à prova. E, na primeira parte, o trabalho que tem feito para aperfeiçoar o push shot que quer acrescentar ao seu repertório deu frutos.
À distância do cesto em que se encontrava quando recebeu a bola, aquele push shot era mesmo a melhor opção, porque um drible de aproximação ou um micro-segundo desperdiçado poderia representar uma vantagem para Claxton.
Na segunda parte, em duas situações em que Claxton se viu obrigado a entrar em rotação defensiva, Neemias trabalhou bem sem bola e, com o cesto à sua mercê, não hesitou em concluir as jogadas com afundanços.
A jogar com os titulares e, por isso, com menos bola no ataque do que tem sido hábito, o poste luso tomou sempre a melhor decisão e foi 100% eficaz (4 em 4) na altura de meter a borracha laranja no cesto. Mas não só. A eficácia de Neemias revelou-se ainda na execução das pequenas tarefas que contribuem para a fluidez (e sucesso) do ataque dos Boston Celtics.
Rapidez de execução como válvula de escape
Os Celtics gostam de criar lançamentos abertos e de elevada eficácia, e isso implica rapidez de execução de todos os cinco jogadores que estão dentro de campo. Se, na época passada, Neemias era por vezes um corpo estranho no meio campo ofensivo dos campeões da NBA, esta temporada é apenas mais uma peça de uma máquina oleada. E isto é um elogio.
Do jogo desta noite saltaram à vista as seguintes três jogadas, em que se destaca a velocidade de execução com e sem bola do internacional português no ataque de Joe Mazzulla. E sempre a criar vantagens para os colegas de equipa, como válvula de escape que resolve um problema colectivo.
Aqui, perante a dificuldade de Payton Pritchard penetrar em drible, Neemias oferece uma linha de passe no cotovelo [elbow] da área restrictiva, do lado contrário da bola. Após receber o passe do base, Queta roda para o perímetro e incentiva Sam Hauser a ir buscar a bola à sua mão [dribble handoff], usando depois o ângulo de saída do DHO para bloquear e libertar o “atirador” para um lançamento de elevada percentagem.
Nesta jogada, Jaylen Brown dribla no topo e todos os outros nove jogadores em campo parecem estar hipnotizados. O primeiro a sair dessa aparente apatia é Neemias, que já antecipava que o Finals MVP ia mudar o lado da bola para Jayson Tatum. Ainda a bola não tinha saído das mãos de Brown e Neemias já sprintava para oferecer um bloqueio indirecto ao jogador do canto [pin down], que dá todo o tempo e espaço do mundo para o triplo de Derrick White.
E, mais tarde, nova acção decisiva de Neemias. Primeiro oferece um bloqueio em afastamento [flare screen] para isolar Pritchard no canto. Depois, com a vantagem criada para o base, Neemias reage à penetração em drible, mostrando sempre o estado de prontidão necessário para representar uma ameaça.
Pritchard acaba mesmo por passar ao poste, que percebe que a área pintada tem mais tráfego que a Segunda Circular em hora de ponta e faz o passe extra para Hauser, no canto oposto, com velocidade e precisão notáveis. O “tiro” não cai, mas Jrue Holiday conquista o ressalto ofensivo e converte a segunda oportunidade.
Contas feitas, a estatística diz que Neemias fez “apenas” uma assistência no total destas três jogadas - DHO com Hauser -, mas, na verdade, fez muito mais do que isso. Antecipou o que a defesa contrária ia fazer, mexeu-se primeiro do que toda a gente, ofereceu soluções aos colegas quando parecia que o ataque podia estagnar, ajudou a criar boas soluções de lançamento. São os tais intangíveis que têm muito valor, mas a uma velocidade alta e partilhando o campo com as estrelas.
Footwork no ressalto ofensivo
Não teve efeitos práticos na situação em causa, mas reparámos também nesta jogada. Notem a amplitude da mudança de direcção de Neemias antes de atacar o ressalto ofensivo - a bola entrou, mas não é isso que interessa aqui. Reparem apenas no trabalho de pés do jogador português.
Este trabalho de pés para ganhar vantagens em relação aos defensores directos tem sido uma das nossas tendências preferidas de Neemias Queta, esta época. Aproveita, assim, o comodismo dos postes adversários, que nunca procuram o contacto com o corpo do português antes de partirem para o ressalto. Com este trabalho de pés pouco comum em jogadores tão altos, Neemias tem somado mais uns pontinhos para a sua conta pessoal. Rato!
O trabalho de pés de Neemias é bom, mas não há nada que nos dê mais gozo do que ver o crescimento de Neemias como âncora defensiva. Portanto, para fechar o artigo de hoje, três A-BA-FÕES dos últimos dois jogos. Qual é o melhor?
estas análises são mesmo muito boas! Sempre fui fã do espetáculo mas interesso-me cada vez mais pelas coisas que "não estão à vista".
excelente conteúdo para não variar.
gostava de sugerir, se o tempo assim te permitir, que fizesses este tipo de análise a um jogador diferente por semana ou mvp semanal de cada conferência. fica a sugestão
grande abraço e obrigado mais uma vez
Pareceu que ele saiu tocado no final... Esperemos que não seja nada de grave